Aumentos "secretos" de impostos

Gosto de ler o João Miranda no Blasfémias. Às vezes parece que está a dizer só coisas evidentes, mas a verdade é que tem o condão de clarificar e trazer à luz aquilo que estava escondido naquele modo falacioso de descrever a economia que tantas vezes encontramos na nossa imprensa, e na boca dos nossos políticos.

 

Pois é, não deixar o governo aumentar os impostos, se isso levar a ficarmos com mais défice é equivalente a... aumentar os impostos. Até iria mais longe - é um aumento de impostos pior, porque mais escondido, mais falaciosamente apresentado à população. E, nos tempos que correm, é gravíssimo cair de novo no mesmo erro que nos trouxe ao triste estado em que estamos.

 

Claro que se pode argumentar que não é directo que um não-aumento de impostos resulte em mais défice, há certamente outras variáveis pelo meio, e o Governo continua a parecer pouco convincente quanto aos cortes do lado da despesa. Mas que se argumente, que se explique, porque isto já está apertado por todos os lados.

 

Foram ingénuos aqueles que rejubilaram com o acordão do Tribunal Constitucional sem perceber que a coisa havia de doer noutro sítio. O nosso debate político devia ser sobre como equilibrar isto da melhor maneira possível, mas cortando o que for preciso cortar; quem quiser deixar os cortes para descarregar no défice merece o mesmo opróbrio que recai (justamente) sobre os que propõem aumentos de impostos. É que querer suavizar a nossa dor financeira actual à custa da geração que se segue é um vício feio para o qual temos de começar a sensibilizar-nos...

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 11:23 | comentar | partilhar