Por um concurso não-nacional de professores

Há algo de tétrico na possibilidade de se lançar de um dia para o outro vários milhares de professores num desemprego desesperado. Habituados a queixar-se dos critérios com que isto é feito, muitos se esquecem que deviam era queixar-se daquilo que é, a meu ver, o mais funesto atropelo ao princípio da subsidariedade no nosso país: a simples existência de um concurso nacional de professores.

 

Este concurso centraliza a distribuição de professores pelas escolas. Alguém achou que isto era boa ideia, pôr tudo ao molho. Em vez de deixar essas decisões a quem lhes compete, a quem tem mais informação, a quem tem mais a ganhar e a perder com elas, a quem enfrenta diariamente os alunos e os pais, ou seja, a quem lá está naquela escola, não: reduz-se o professor a um conjunto de dados académicos, uns números e uns anos de serviço, mete-se no computador e... já está: este muda de cidade, o outro muda de vida, etc.

 

Aguenta-se no sistema milhares de professores com esquemas de horários inventados, espera-se uns anos, acumula-se... e agora de repente deita-se toda a gente fora. Para estes, também não haverá lugar na escola ao lado, porque foi a máquina nacional que expulsou a "carga excessiva", por isso é todo o país que se inundou de professores sem colocação e de portas fechadas, de uma vez só.

 

Podia ter acontecido tudo aos poucos, de forma mais humana, mais previsível, com mais alternativas, com decisões mais ponderadas, atendendo a outros factores como a qualidade do professor ou os seus encargos familiares. Todas estas coisas podem ser tidas em conta numa escola que decide sobre os seus professores. O CPU do Ministério é que não quer saber nada disto...

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 10:11 | comentar | partilhar