O ensino entre 1998 e 2011 não permaneceu (nem deveria necessariamente permanecer) constante. Houve alterações nas cadeiras, nos programas, nos horários, etc. Houve, e continuará a haver. Portanto, o número de professores nunca tem que ser proporcional ao número de alunos. Não foi no passado, e não será no futuro.
Por exemplo, a partir deste ano é obrigatório o ensino até ao 12º ano, quando até agora não o era e, de facto, a maior parte dos alunos abandonavam o ensino antes desse ano. Esta alteração deveria, em princípio, obrigar a um aumento do número de professores.
O Luís Lavoura começa por dizer que não é forçoso que exista uma relação entre o número de alunos e o de professores, e acaba a afirmar que, devido ao alargamento da escolaridade obrigatória (portanto mais alunos no sistema), serão necessários mais professores. É impressão minha, ou estabeleceu uma relação entre os dois factores?
O Alexandre Homem Cristo está a procurar apanhar-me em contradição (o que nem é difícil) sobre pormenores, em vez de se confrontar com a essência do meu comentário.
Essa essência é que o número de professores nunca tem que permanecer proporcional ao número de alunos, uma vez que o ensino vai sempre mudando. Não faz portanto sentido argumentar que entre 1998 e 2011 a razão entre os números de professores e de alunos deveria ter-se mantido constante, ou que daqui para a frente se deverá manter constante.
Luís, não está em causa se deve ou não manter, ano após ano, a mesma proporção. Não é o que estou a dizer. Aí, claro, haverá factores que influenciam e alguns já os referiu. O que digo é que defender que não deve haver relação de todo é, a meu ver, absurdo. E não deixa de ser gritante que o número de professores aumente ligeiramente quando o número de alunos cai vertiginosamente. A desproporção é tal que aponta para um problema no sistema.
João Pedro a 12 de Setembro de 2012 às 16:28
Também me parece óbvio e só não vê quem não quer.
Southern Confederated Gentleman a 12 de Setembro de 2012 às 17:11
De um ministro, para mais com elevada formação económica e estatística, exige-se um esclarecimento rigoroso, sem sombra de ambiguidade, quando trata de expressar e relacionar números, sejam eles absolutos ou relativos.
Luís Vilela a 12 de Setembro de 2012 às 17:54
Alexandre,
Já não discuto a relação que pretende reafirmar relativamente ao número de alunos face ao número de professores. Há conclusões distintas da sua, como parece ter concluído a OCDE relativamente a tendências no número de alunos. Mas já não discuto isso, a estatística dá para muita coisa.
Mas onde estão as razões da relação que diz existir entre número de alunos/professor? Presumo que não ignora que as oscilações possam existir em função da abertura/fecho de ofertas formativas. Acrescento que, mesmo a uma escala menor, o aumento do número de alunos por turma e a nova organização dos tempos escolares possam influenciar a dita relação. Mais grave ainda é saber que, no atropelo dos normativos, se fazem turmas de 30 alunos com alunos com NEE. Se atribuem horários com 25, 28 horas lectivas que, no conjunto com as restantes componentes resultam em semanas de 38 ou 42 horas de trabalho. Bom, assim fica fácil dizer que se equilibrou a relação de alunos/professores. Mas o que motiva estas decisões? Os custos? Muito bem, pode até ser, mas não se faça a defesa destas decisões esperando obter melhorias na qualidade do ensino.
Saudações,
Luís Vilela.
João. a 12 de Setembro de 2012 às 17:58
A meu ver este post parte de uma falsa premissa que é também aquela onde assenta muito do discurso do ministro actual sobre esta matéria - o que a meu ver é revelador da política corrente, quer dizer, assenta em falsas premissas. Resta saber se assim o faz por propaganda ou de facto.
A falsa premissa é que só agora se chegou a um ponto onde se considera a relação do número de professores com a do número de alunos.
Há cerca de 9 ou 10 anos atrás concluí o meu estágio após o que participei no concurso nacional de colocação de professores - o resultado foi que não fui colocado e que ninguém me pôs nalguma função de segundo recurso como aqui se sugere que tem sido feito até hoje, quer dizer, até ao providencial Crato. Nada disso. Não fui colocado. Ponto final. Acabei por emigrar e nunca dei aulas para além do período de estágio.
De minha parte deixaria a sugestão de que evitassem tentar fazer os outros de patetas, embora sejam perfeitamente livres de o tentar.
O que está aqui em causa não é chegar a um ratio perfeito entre professores a alunos mas a implantação de um modelo diferente de ensino para o qual aparentemente são necessários menos professores.
Por vezes o discurso da direita sobre esta matéria faz-me lembrar a leitura de Kojève da questão hegeliana da abstinência sexual dos prelados - quer dizer, o resultado dela é que não param de pensar nela, ou seja, é uma falsa abstinência.
Mutatis mutandi, o governo apresenta um plano que supostamemente resolve os problemas do sistema de ensino ou melhora bastante este ensino sendo que para tal o foco deixou de ser nos professores e passou a ser completamente nos alunos, mas o que vemos é um constante discurso sobre os professores - ou seja, é também uma falsa transferência de foco uma vez que continuam a chegar ao aluno através de uma "teorização" permamente do lugar e papel do professor.
Relatório Education at a Glance
Previsões da OCDE contrariam Nuno Crato
A percentagem de alunos entre os 15 e os 19 anos vai aumentar 10% ou mais por comparação com a última década. A previsão é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e contraria as projecções apresentadas pelo ministro Nuno Crato nos últimos dias.
(...)
Público 11/09/2012
Disraeli dizia que havia três tipos de mentiras: mentiras, mentiras danadas e estatísticas. E quando estas últimas são usadas como um ébrio usa um poste de iluminação – para apoio e não para obter luz -, são uma espécie de pontilhismo digital numerológico. E desdoiram a reputação rigorista de um ministro empático, catedrático, matemático. Ai desdoiram desdoiram…
p D s a 13 de Setembro de 2012 às 11:20
Sim, Alexandre, sejamos claros:
O Ministro disse "boa noite" correctamente !
e, de facto, aí não há erro nenhum.
Mas, caramba, tentar ignorar que um Ministro que é Matematico de formação, que se anuncio como um "primado do Rigor" e das contas certas...
tentar ignorar que este Ministro, apresenta, defende, e suporta decisões em cima de numeros manifestamente "errados" (ou tlvz mesmo "mascarados" conscientemente)...
tentar ignorar que no dia seguinte, os proprios serviços do Ministerio, reconhecem o erro, e dizem q vão avaliar melhor...
Tentar ignorar todo este enquadramente, e continuar a defender a "Virgem Maria"....
...enfim: foi , é e continuará a ser esta CULTURA NACIONAL da partidarite, este CULTO DO AMIGUISMO, este constante "fechar de olhos" da elite pensante, que conduziu este pais ao lugar onde estamos hoje!!!
Caros Luís Vilela e Paulo Ferreira,
O que a OCDE diz, e os jornais recuperam, é que o número de alunos irá aumentar, muito em resultado do alargamento da escolaridade obrigatória. Ou seja, é uma projecção do futuro. O que escrevi é um olhar sobre o passado, dizendo que a máquina está desequilibrada. Não fiz prognósticos, nem disse que continuaria a diminuir o número de alunos. Limitei-me a olhar para o passado. Como tal, o que a OCDE diz em nada contraria o que escrevi. Parece-me óbvio.
Luís Vilela a 13 de Setembro de 2012 às 11:51
Alexandre,
Obrigado pela resposta, ainda que breve.
Mas consideremos o seguinte: a fase de início do ano lectivo (com as incontáveis trapalhadas e ilegalidades), o discurso do ministro (na exercício retórico que tenta fazer passar por conhecimento da realidade e que recupera o pior de MLRodrigues na expressão de candidatos a professores... não esquecendo que são os mesmos que têm mantido o sistema a funcionar ao longo de anos e décadas!) não têm nenhuma ligação com aparecimento de textos que reforçam o exercício retórico do ministro?
Longe de mim dizer que não o pode fazer (Liberdade acima de tudo!), mas não podemos esquecer que as análises que neles constam justificam (tentam pelo menos) medidas que não promovem a qualidade do sector.
Mais distorcem a percepção que o discurso sobre estas questões deve facilitar. Ou a sua conclusão não tem a finalidade de dizer nada do presente? A justificar nada do que agora a tutela faz?
Os meus comentários buscam apenas isso, juntar referências (ou opinião se quiser) que, sendo diferentes, procuram dar conta da difícil natureza do problema.
Mas continuemos a extrair as consequências das diferentes propostas, discutindo civilizadamente e veremos onde vamos dar.
Saudações críticas,
Luís Vilela.
Caro Luís Vilela,
Percebo o que escreve. O que escrevo é independente do que foi dito pelo Ministro, até porque, segundo consta nas notícias do jornal Público, as suas afirmações ter-se-ão baseado em dados diferentes dos meus (i.e. numa outra escala temporal, porque eu olho para a evolução 1998-2011, e o Ministro ter-se-á referido somente aos últimos anos).
Dito isto, parece-me muito lúcido no discurso do Ministro este assumir de que, durante anos, o sistema teve professores a mais, face às suas necessidades. Ou seja, que o número de alunos e o número de professores não eram dois factores devidamente relacionados. Parece-me um bom sinal essa chamada de atenção, porque comprovada pelos dados que assinalei.
Não concordo que esta constatação seja um obstáculo ou não promova a qualidade no sector. Afinal, se se contrata menos professores porque há menos alunos, todos os alunos continuam a ter professores. E questões como a dimensão da turma, por exemplo, não têm relação directa com os desempenhos escolares dos alunos.
Sobre o futuro, o Ministro afirma que a tendência de diminuição de professores deverá manter-se. Confesso que não olhei para os números, e que por isso não tomei posição sobre a matéria. Talvez num outro post.
Cumprimentos,
"E questões como a dimensão da turma, por exemplo, não têm relação directa com os desempenhos escolares dos alunos." - é um argumento ad ignorantiam.
Por outro lado, alguém pode, honestamente, sublinho, honestamente, defender que a qualidade do trabalho feito em aula não depende também do número de alunos (e essa relação varia ainda com o tipo de disciplina, etc.)?
Carlos, podes (des)qualificar o que digo como mais gozo te der. O que não significa que tenhas razão. O que eu escrevi está em inúmeros artigos académicos ou, por exemplo, em vários relatórios da OCDE, incluindo o mais recente Education at a Glance 2012.
Enganas-te. Não me dá gozo nenhum.
(E sei, "empiricamente", do que falo.)
Renato a 14 de Setembro de 2012 às 15:12
“E questões como a dimensão da turma, por exemplo, não têm relação directa com os desempenhos escolares dos alunos.”
Alexandre. não terá no ensino universitário, onde facilmente se dá uma aula (teórica) para um anfiteatro de 300 alunos, mas tem com certeza para o ensino básico, onde o tipo de ensino é completamente diferente. Pode-se fazer essa experiência. Mas as novas metas para o português resolvem tudo: se se obrigarem os alunos a ler cem palavras por minuto resolve-se o problema da falta de tempo dos professores para darem a devida atenção a cada um dos seus alunos. Se, ainda por cima, lhes ensinarem estenografia (olha, lá está, ensino profissional) melhor ainda.
Já agora, já conseguiu perceber o propósito das turmas de 30 alunos? Chegou-se a esse número nalgum estudo pedagógico? Ou nalgum documento de contabilidade pública? Seria importante percebermos isto.
A.B.H. Ramos a 13 de Setembro de 2012 às 15:07
O que a OCDE diz, e os jornais recuperam, é que o número de alunos irá aumentar, muito em resultado do alargamento da escolaridade obrigatória. Ou seja, é uma projecção do futuro.
Sejamos corretos e não mintamos - uma projecção que começou a 1 de setembro de 2012?!? É que o alargamento a 12 anos abranje todos os alunos com menos de 18 anos feitos a 1 de setembro deste ano...
O que eu escrevi é claro: entre 1998 e 2011, aumentou o número de professores e diminuiu muito o número de alunos. Isto é um facto. Que a OCDE diga que, a partir de 2012, vai aumentar, é outra coisa, totalmente independente do que escrevi. O que defendo é, tão simplesmente, que o número de professores a dar aulas esteja relacionado com o número de alunos no sistema. Porque, até hoje, não tem estado.
Isto é correcto, não é mentira, e só não perceberá se não quiser.
Paulo G. a 19 de Outubro de 2012 às 16:21
Só agora dei com este post, fora do tempo.
O MEC afirmou que a quebra foi de 14% nos últimos 3 anos e incluiu as NO
Nesse período o nº de professores diminuiu de forma equivalente e os encargos com o pessoal caíram ainda mais.
Basta consultar os orçamentos do ME(C).
O resto é... o costume.