explicam como quem quer ser entendido (ao contrário da academia europeia que frequentemente prefere manter uma certa obscuridade que insinue a sua superioridade intelectual)
Excelente, muito verdadeira asserção.
nós somos importadores diários de ideias e cultura americanas
Nós, salvo seja. Eu não sou.
João. a 24 de Setembro de 2012 às 15:05
"O tom por vezes é académico, mas não deixa de ser americano, portanto, explicam como quem quer ser entendido (ao contrário da academia europeia que frequentemente prefere manter uma certa obscuridade que insinue a sua superioridade intelectual)."
Não estou nada de acordo. O pensamento europeu é muito mais rico do que americano. A obscuridade de que se fala refere-se muitas vezes a quem não está disposto a abdicar da complexidade e até da perplexidade. Pessoalmente, e em geral, não tenho muito interesse na intelectualidade norte-americana, parece-me superficial de mais, pouco estimulante. Dos EUA gosto do cinema, de alguma música e de boas pessoas que vou conhecendo.
Não estou nada de acordo.
A intelectualidade norte-americana produz muita coisa de valor.
O hábito europeu de não explicar as coisas devidamente, por forma a mantê-las obscuras, é altamente criticável.
Faz toda a diferença ler uma revista de física norte-americana (The Physical Review) ou europeia. Na revista norte-americana os artigos explicam, como se para burrinhos, cada passo do raciocínio. Na revista europeia há uma linguagem deliberadamente opaca e nada fica bem explicado. Nem por isso a física europeia é melhor.
João. a 24 de Setembro de 2012 às 16:10
Luis, eu estou a falar em comparação e no que respeita essencialmente à filosofia e ao pensamento político. Talvez eu devesse ter sido mais concreto. No que respeita à física, uma vez que não tenho grande conhecimento, não me importo de começar por acreditar no que diz.
Eu também acho o pensamento europeu (em geral) mais profundo e estimulante; mas não acho que isso tenha de ir em detrimento da claridade de expressão e argumentação... e um verdadeiro interesse por ser compreendido. É nisso que eles nos batem, muitas vezes.
Acredito que a Europa tenha intelectos superiores, mas também vislumbro por este lado do Atlântico um estilo retorcido que promove egos mais inchados, principalmente no mundo académico.
Portanto, concordo consigo que pode ser boa a obscuridade de "quem não está disposto a abdicar da complexidade e até da perplexidade", será menos boa a obscuridade que serve a vaidade do orador e o seu desprezo por quem o ouve.
Não acho que faça lá muito sentido falar-se de superioridade intelectual de um dos lados do Atlântico sobre o outro. As universidades de topo são boas em qualquer dos lados. Os professores comunicam entre si. Os alunos já não são simplesmente ocidentais, americanos ou europeus, mas surgem de todos os continentes.
O que talvez se possa ainda dizer, embora provavelmente menos do que há 60 anos, é que os alunos universitários americanos ainda são dotados de um senso comum diferente, na medida em que menos "corrompidos" pelos Freuds, Nietzches e Marxs. De qualquer maneira, dado o êxodo de professores europeus para os EUA, durante e após a Segunda Guerra Mundial, não será hoje tanto assim.
Penso que a maior diferença está hoje na maior informalidade americana face à tradicional formalidade americana. Também aqui, contudo, as diferenças tendem a ser menores, com os europeus, também eles, a optarem por uma maior informalidade.
Não quero dizer sem mais que não há diferenças entre os EUA e a Europa. Haverá, certamente. Mas ainda é o preconceito a determinar muitas das nossas ideias (feitas) sobre o assunto.
João. a 24 de Setembro de 2012 às 16:05
"O que talvez se possa ainda dizer, embora provavelmente menos do que há 60 anos, é que os alunos universitários americanos ainda são dotados de um senso comum diferente, na medida em que menos "corrompidos" pelos Freuds, Nietzches e Marxs."
Isto aqui explica muita coisa, talvez este seja o problema, que haja nos EUA, e pelos vistos não só, ainda aquela ideia de pensadores que corrompem a juventude.
há sempre quem prefira Anito, Meleto e Licon.
pessoalmente, prefiro Sócrates.
Bem, João, penso que não podes olhar para o século XX europeu e deixar de ver a influência de tipos como Marx e Nietzsche. Agora, cada um sabe de si, e interpreta o século XX à sua maneira. Para uns, um século terrível. Para outros, uma maravilha.
João. a 24 de Setembro de 2012 às 19:53
Nuno, deixa-me ser preciso aqui.
Em primeiro lugar, não vou entrar nos termos em que colocas a questão, porque são os mesmos a partir do que, por exemplo, se poderiam dispensar uma série de autores de outras épocas, nomeadamente medievais e iluministas.
Em segundo lugar, e remetendo em concreto aos autores que citas, Marx, Freud e Nietzsche, o que é para mim extraordinário nessa posição é que são três autores que são contraditórios entre si, quer dizer, escolher abdicar de suas obras é abdicar de um universo imenso de questões. O pensamento europeu explicitamente não abdica desse universo de questões e aí está desde logo, para mim, o que é preferível na Europa aos EUA.
face à tradicional formalidade americana = face à tradicional formalidade europeia
lucklucky a 24 de Setembro de 2012 às 22:20
Depende da área que estamos a falar. Se vamos ás ditas ciências sociais -quero dizer aquelas que fazem um esforço para não serem escrutináveis - a desgraça é igual em todo o lado. Se adicionarmos a isto o autoimposto apartheid sexual e étnico americano necessário ao Partido Democrata para exploração eleitoral ainda fica pior.
Em muitas áreas a situação nos EUA é bem pior que na Europa.
Quando o Nuno Lobo fala de linha conservadora deve provavelmente integrar os "classic liberals" que devido ao extremismo pós contra cultura estão a ser encostados do Partido Democrata.
Sinais das bases do Partido Democrata na última Convenção:
-Não ao Lucro.
-Pessoas pertencem ao Estado.
-Não a Deus e a Israel.
Para dourar a pílula um alto funcionário do DoJ foi incapaz de negar que o Governo Obama iria impor restrições à liberdade de expressão.
A situação nos EUA é alarmante.
João. a 24 de Setembro de 2012 às 23:38
Em todo o caso, dada a clareza das suas posições parece-me que o Lucklucky é mais adepto dos americanos do que dos europeus...
Para mim há poucas coisas mais medíocres, no que respeita à política, do que a política americana. Sinceramente, para mim, tudo aquilo é abaixo de cão e se não for pelo espetáculo qualquer investimento intelectual na política americana é um caminho directo para o emburrecimento. Porém os republicanos conseguiram na última convenção ser menos do que medíocres eles foram mesmo confrangedores - refiro-me a toda aquela procissão de histórias de família, do avô e da avó, da mamãe e do papai, por parte dos intervenientes principais - como se os pais e avós deles fossem mais interessantes que os pais e avós de quem quer que seja. Enfim, faltou só a sessão interminável de slides com fotos antigas da família. Foi realmente patético.
lucklucky a 25 de Setembro de 2012 às 20:48
Você mistura coisa totalmente diferentes. As discussões políticas que se fazem nos think tanks, nos media, em revistas dedicadas e as campanhas eleitorais, falha ainda em reconhecer o que é a campanha eleitoral e as diversas fases.
Qual a diferença entre os filhos e netos dos políticos Americanos e Europeus? nada de apreciável, uns aparecem nas Olás outros aparecem na Convenção que já não decide nada pois foi só a consagração após as discussões políticas das primárias.
Primárias que é algo que os Europeus não têm e deveriam ter.
Se por exemplo ainda existisse combate político entre os candidatos Republicanos por altura da convenção esta teria sido diferente.
Em termos políticos as discussões americanas estão um degrau acima das europeias, os Europeus como preferem não enfrentar as situações difíceis - embora os Americanos tenham os seus tabus são em menor número - depois passam de 8 para 80. Como consequência na Europa aparecem Le Pen & Co . A Europa é uma garrafa onde a pressão é deixada crescer sem ser libertada e depois pode mudar num ápice. Hollande vai falhar, vai ser a Marine Le Pen a seguir?
João. a 25 de Setembro de 2012 às 23:43
Os franceses têm primárias, ou estou enganado?
"A Europa é uma garrafa onde a pressão é deixada crescer sem ser libertada e depois pode mudar num ápice. Hollande vai falhar, vai ser a Marine Le Pen a seguir?" A Le Pen pertence à esfera do capitalismo portanto, se ganhar, vai basicamente continuar com a situação como ela está diferenciando-se por políticas de emigração e anit-sindicatos mais duras. De resto, não prevejo grandes alterações. Posso estar enganado mas o que uma vitória da Le Pen mostraria é que o sistema actual é perfeitamente compatível com governos de extrema-direita.
Quanto à questão dos EUA reafirmo que uma pessoa emburrece na medida em que dedicar a vida a analisar a política americana à espera que alguma coisa de extraordinário surja da dialéctica entre republicanos e democratas. Só haveria algo de extraordinário de surgisse uma verdadeira força oposta a ambos mas isso não me parece muito previsível.
A linha é conservadora
Fui ver os títulos e os genéricos de alguns dos últimos artigos publicados.
A linha não me pareceu simplesmente conservadora - pareceu-me ultra-conservadora, de um conservadorismo inaceitável para a generalidade dos europeus atuais, e até mesmo para a generalidade dos norte-americanos.
Chame-lhe como preferir, o nome que você lhe dá reflecte não só o cariz da publicação mas também o modo como você se situa ideologicamente.
O que uns chamam simples bom-senso outros chamam ultra-conservadorismo. Tudo bem. Depois será preciso ultrapassar as etiquetas e ir aos argumentos concretos.
E acho que ninguém pode acusar a Public Discourse de não argumentar racional e abertamente sobre assuntos que muitos quereriam já declarar fechados à discussão. Não digo que acertem em tudo o que escrevem; mas pensam e discutem com seriedade e é útil lê-los mesmo quando se discorda.
Não leu com cuidado o meu comentário. Quando eu disse que a posição era ultra-conservadora, especifiquei que isso não é em relação ao meu próprio posicionamento ideológico, mas sim em relação ao posicionamento ideológico da maioria dos europeus, e também dos norte-americanos, atuais.
Eu li, e você foi claro no que escreveu. Eu é que quis acrescentar a referência à sua ideologia porque me cheirou que aquele "ultra" e aquele "inaceitável" não deixam de ser um pouco depreciativos.
Por exemplo: eles têm-se fartado de escrever sobre o casamento gay. Este tema nos EUA divide o país quase 50% / 50%. O mesmo para o aborto. Dizer que um dos lados deste debate é "ultra" parece-me um bocado forçado. E se é inaceitável para a maioria, será uma maioria muito marginal.
E muitos artigos lá sobre o bem comum, ética, lei natural, família, trabalho, carácter, tolerância seriam aceites com facilidade por largas maiorias dos EUA e Europa.
eles têm-se fartado de escrever sobre o casamento gay. Este tema nos EUA divide o país quase 50% / 50%.
Sim, mas está a dar-se uma evolução muito rápida dessa posição, com cada vez maior percentagem da população favorável ao casamento homossexual. Veja por exemplo artigos nas últimas duas edições da revista The Economist. As posições contra o casamento homossexual estão rapidamente a tornar-se démodées.
O mesmo para o aborto.
Neste ponto Você terá alguma razão em relação aos EUA, mas nenhuma em relação à generalidade da Europa - na Europa praticamente ninguém hoje (exceto em países culturalmente deslocados como Portugal, que em matéria de valores está frequentemente mais próximo da América Latina do que da Europa) admite a proibição do aborto. E, mesmo nos EUA, posições contra o aborto em mulheres que foram violadas, como as que Você lê nesse sítio, são largamente consideradas inaceitáveis. Não é por acaso que Paul Ryan é classificado (nos EUA) como ultra-conservador por ter tais posições.
Santa paciência.
Leio o The Economist todas as semanas, e eles são consistentemente pro-casamento gay desde há muito, muito tempo. Isso é que faz o oposto ser demodée?
O seu triunfalismo no assunto do aborto é confrangedor. na Europa praticamente ninguém hoje (...) admite a proibição do aborto? Vivemos no mesmo continente? E o aborto está proibido em todos os países da Europa! A partir de x semanas, etc.
De qualquer modo, não me incomoda ser minoria; nem estou particularmente preocupado sobre quantos europeus ou americanos acreditam em determinada ideia. Quero é saber os méritos dessa ideia e discuti-la com cabeça.
Ajudava alguma coisa nesta discussão se eu agora o chamasse de ultra-liberal, ou de extrema-esquerda, ou qualquer coisa do género? Não. Então deixe também a etiqueta de "ultra-conservador" de lado, esqueça a conversa do "já ninguém acredita nisso" e dedique-se a escrever artigos (com um nível igual ou superior aos da Public Discourse) em que defende os seus pontos de vista com argumentos e factos.
A posição da Economist é irrelevante para o assunto. O que eles afirmam é que as sondagens de opinião nos EUA evidenciam uma evolução muito rápida da opinião da população americana em relação ao casamento homossexual. Este é um facto objetivo, independente das posições da Economist, das suas ou das minhas.
Quando eu me referia a proibição do aborto, falava da proibição total (desde a conceção). Uma tal proibição não é defendida se não por uma minoria muito minoritária da opinião pública europeia (com a exceção, repito, de uns poucos países culturalmente periféricos).
Quanto a discutir ideias, nunca foi essa a minha intenção. O meu comentário limitou-se a constatar o facto objetivo de, independentemente das minhas ideias, as posições no sítio lincado serem ultra-conservadoras (em relação às ideias da generalidade dos europeus e, até, norte-americanos).
lucklucky a 25 de Setembro de 2012 às 20:30
"E, mesmo nos EUA, posições contra o aborto em mulheres que foram violadas, como as que Você lê nesse sítio, são largamente consideradas inaceitáveis. Não é por acaso que Paul Ryan é classificado (nos EUA) como ultra-conservador por ter tais posições."
Você não sabe do que fala. Tem democratas como Martin Sheen(nome artistico) sim o actor de West Wing que são contra o aborto mesmo em caso de violação. A mulher com quem ele casou é resultado de uma violação.
Paul Ryan é qualificado como ultra conservador pela esquerda do NYT...como se fosse bitola.