Podemos avançar com a conversa?

Nestes últimos meses, e de forma mais intensa nos últimos quinze dias, temos assistido a um intenso debate em que se opõem duas maneiras de olhar para o nosso país:

- os realistas (para dizer de alguma maneira) perscrutam o défice com olhar agudo e sentenciam que os cortes são necessários, que têm de chegar aos salários e às pensões, não bastam as PPP's e os restantes ganhos de eficiência na despesa; sentem que, enquanto não começarmos a falar de forma mais verdadeira sobre o estado das finanças do país, estamos à procura de caminhos, mas de olhos fechados. E têm razão.

- os humanistas (à falta de melhor palavra) salientam sagazmente que a vida humana não se mede em euros e cêntimos, que há direitos que não estão ao dispor dos políticos, que a aritmética e a contabilidade não podem ser os patrões do destino de uma nação. Sentem que se negarem tenazmente a lógica cega dos números, os interesses instalados acabarão por ceder e se abrirão novas possibilidades até agora fora do debate. E têm razão.

Podemos desencravar esta conversa? Porque é que o realismo dos números há-de ser oposto à consideração da amplitude e totalidade da vida humana? Não é simplesmente uma parte, uma parte verdadeira, dessa totalidade?

É uma falsa oposição. Se deixarem o "realista" falar até ao fim, podem conversar com ele sobre como atenuar as consequências sociais nefastas dos cortes que ele diz serem necessários. Se deixarem o "humanista" falar até ao fim ele certamente saberá estender a sua preocupação social à geração seguinte, que não quer sobrecarregar (ainda mais) com dívidas.

A solução para o país (se existir…) não poderá prescindir de nenhuma destas duas visões. Devíamos ocupar-nos em equilibrá-las, não em usar uma para bater na outra.

publicado por Pedro Gonçalves Rodrigues às 13:08 | partilhar