Eu, que nem sempre me interesso pelo que se passa fora do eixo Lisboa-Cascais, estou fascinado com o vai acontecendo na Rússia. Terrivelmente fascinado. A Rússia pós-89, cuja rapidíssima conversão à democracia e ao capitalismo levou Fukuyama a decretar o "fim da História", desatou com Putin a bater o pé à expansão da NATO até às suas fronteiras, a franzir o sobrolho ao apagamento da memória soviética nas suas antigas repúblicas (como na Estónia, há meses numa guerra de símbolos que o Público hoje refere) e a eliminar não muito subtilmente os críticos do seu Governo, por vezes no estrangeiro.
O que me fascina em tudo isto é tentar perceber até onde chegarão a impunidade e a ambição dos novos senhores do Kremlin. Ou deverei antes dizer - dos velhos senhores do Kremlin? Não é preciso lembrar de onde vêm Putin e a maioria dos homens que agora mandam na ex-URSS, pois não?
Por outras palavras, a grande dúvida está em saber se estamos a lidar com a eterna pulsão hegemónica da Rússia no Leste europeu, ou se as coisas podem mudar com outro Presidente. Putin vai limitar-se a esmagar a oposição interna por razões conjunturais ou a democracia russa está a seguir um caminho sem regresso? E os atritos com os vizinhos são apenas retórica para consumo interno ou o primeiro espreguiçar de um urso faminto que desperta do leve sono de Inverno?
Eu, que nem sempre me interesso pelo que se passa fora do eixo Lisboa-Cascais, não gostaria de estar na pele de lituanos ou arménios nos próximos tempos. E, se estivesse, pedia ao sr. Fukuyama para rever aquela coisa do fim da história.