O Expresso traz hoje uma reportagem sobre o aborto, um ano depois da mudança da lei.
Há factos curiosos, embora pouco surpreendentes. O número de abortos legais ronda os 14 mil, menos do que alguns previam. Cerca de um terço foram efectuados no sector privado. A mediática Clínica dos Arcos fez metade do total na Região de Lisboa e Vale do Tejo (3614). Por razões que Adam Smith e a generosidade do Estado explicam, as ditas clínicas privadas optaram em regra pelo método mais caro - a cirurgia com anestesia geral. Os hospitais públicos, pelo contrário, preferiram quase sempre o uso de medicamentos.
Em suma, o mercado do aborto legal é "um negócio florescente", como o Expresso reconhece.
Mesmo assim, o aborto clandestino, que continua obviamente a existir, pratica preços mais altos. A bem do anonimato. Ou de quem quer abortar para lá das dez semanas. Francisco George, Director-Geral da Saúde, revela ao Público que "as infecções e a perfuração de órgãos associadas ao aborto clandestino diminuíram em mais de metade" e que este se tornou "residual". A notícia é bem-vinda, mas duvido que "residual" seja a palavra certa para a acompanhar. Quando se discutir outra vez a lei (deixem passar uns anos), voltaremos a ouvir números nada residuais.
A realidade tem esta bizarria de não ceder facilmente às boas intenções.