Sábado, 19.01.08

Dicotomias e maniqueísmos


No mês passado, José Pacheco Pereira chamava a atenção no Abrupto para o seguinte: «Os blogues de jornalistas que são excelentes retratos do que está por trás das notícias, simpatias, antipatias, adesões, ideias, gostos, amizades electivas, ódios de estimação. Eu se tivesse um conselho de prudência a dar a muitos jornalistas portugueses seria o de que nunca, jamais, em tempo algum, escrevessem blogues tão reveladores como, por exemplo, o Glória Fácil ou o Corta-Fitas. Percebe-se tudo bem demais.»
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As reacções, claro, não se fizeram esperar -- por exemplo, Pedro Correia --, ainda que sobre a essência da observação formulada não fosse proferida uma única palavra. Perante a dificuldade em refutar o seu conteúdo, a melhor defesa era o ataque, numa clara manobra de diversão. Na impossibilidade de refutar o teor das críticas, nada como tentar desacreditar o interlocutor...
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Os jornalistas portugueses, em geral, continuam a demonstrar uma enorme incapacidade de aceitar a crítica, independentemente da sua pertinência ou da sua justiça. As críticas e as observações sobre o trabalho dos jornalistas, bem entendido, não são um exercício a preto e branco. Criticar algum do trabalho jornalístico, por exemplo, de Francisco Almeida Leite (FAL), não quer dizer que o mesmo seja um mau jornalista. Esta dicotomia, como instrumento de observação da realidade, é muito pobre, na medida em que na maior parte das vezes as coisas são cinzentas e muito esporadicamente pretas ou brancas. O trabalho dos bons jornalistas, tal como o dos maus e dos assim-assim, não está acima da crítica.
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Como dizia Pacheco Pereira, percebe-se tudo bem demais. As fontes privilegiadas que não se tinha na anterior direcção do PSD, que agora se tem e que não se quer perder, as preferências pessoais e as subsequentes omissões. Alguém encontra uma explicação para o súbito silêncio acrítico de FAL em relação a Luís Filipe Menezes? O que aconteceu à enorme capacidade crítica que FAL sempre demonstrou em relação a Luís Marques Mendes? Evaporou-se, como que por milagre?
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Tudo isto vem a propósito das observações que Pedro Marques Lopes (PML) faz em relação ao Expresso. No momento em que escrevo li apenas por alto a entrevista de Rui Rio. Pessoalmente o que me chamou a atenção foi a pergunta que ficou por fazer: se «os mandatos são para cumprir integralmente, salvo situações muito excepcionais», quais são essas situações muito excepcionais?
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P.S. -- Parte da análise que aqui se faz é válida para a comunicação social, em geral, mas também para os bloggers, evidentemente. Tema para outro post, certamente.
publicado por Joana Alarcão às 20:20 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

Reinventando diariamente a roda

aqui citei, mas volto a repetir: «newspapers should try giving readers what they want, not just what editors think they need», escrevia recentemente Michael Hirschorn (Atlantic Monthly, 12.2007). Plenamente de acordo, apesar desta simples frase ser muito mais complexa do que porventura possa transparecer de uma leitura mais apressada.
Feita esta ressalva, pessoalmente gostaria que a comunicação social portuguesa não andasse tantas vezes ao sabor das conveniências das fontes e prestasse mais atenção aos interesses dos leitores. Entre outras vertentes, seria importante que houvesse um acompanhamento posterior mais sistemático dos temas que a determinada altura foram notícia. Um exemplo: quase cinco meses depois, o que é que aconteceu -- se é que aconteceu alguma coisa, o que por sua vez também seria notícia -- ao pedido formal apresentado pelo juiz espanhol, Baltasar Garzón, ao procurador-geral da República, Fernando Pinto Monteiro, para a criação de uma equipa judicial conjunta com vista à investigação do atentado em Durango, no País Basco?
publicado por Joana Alarcão às 01:17 | comentar | partilhar
Sexta-feira, 04.01.08

Newspapers should try giving readers what they want...

...not just what editors think they need?
«The real value now lies in non-commodifiable virtues like deep reporting, strong narrative, distinct point of view, and sharp analysis, which even in the blogger era (or especially in the blogger era) is available only piecemeal.»
Michael Hirschorn, «The Pleasure Principle» (Atlantic, 12.2007).
publicado por Joana Alarcão às 10:40 | comentar | ver comentários (2) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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