A guerra das cleantech
A Alemanha só aceitará um qualquer plano industrial europeu, plano para o crescimento e emprego ou outro nome que lhe queiram dar, se as suas exportações beneficiarem directamente. Acredito que só o fará com as devidas garantias.
O primeiro obstáculo ao sucesso do plano é no próprio espaço europeu, nem todos os países estão em idênticas condições para beneficiarem de um plano como aquele que se desenha no horizonte. O grau de competitividade da indústria alemã está a milhas das demais indústrias europeias, para ganhar a batalha pela venda de equipamentos ligados às indústrias das energias renováveis e do ambiente (as cleantech). Aos concorrentes europeus ganha na inovação tecnológica, nos custos controlados de mão-de-obra, na produtividade – o suficiente para garantir na Europa a “fatia de leão”. Portanto, no campeonato europeu do crescimento das exportações, fruto do potencial plano industrial, a Alemanha seria novamente um vencedor antecipado - sem surpresas.
Dir-me-ão: e os outros, os não europeus, os chineses? Vão deixar de aproveitar uma oportunidade destas, no maior mercado do mundo?
Os chineses vão tentar, mas aqui há que contar com a “má experiência” acumulada e a capacidade de antecipação alemã. Os recentes desenvolvimentos mundiais do mercado de células fotovoltaícas deixam antever o futuro. A poderosa empresa alemã SolarWorld tem liderado com sucesso uma campanha anti-dumping nos EUA, que já conduziu em Março passado a que fossem criadas taxas aduaneiras de 4,7% às importações de equipamento com origem na China. Mas a mais recente vitória é retumbante, à taxa aduaneira soma-se agora a menos módica tarifa anti-dumping, aprovada em Maio pelo Departamento Americano do Comércio, no valor de 31%. Estas medidas fizeram desesperar os chineses, e já conduziram Pequim a apresentar uma queixa formal na OMC.
Apesar de tudo, esta questão é actualmente um “problema menor” da China. Um problema maior é que a germânica SolarWorld já informou os mercados que vai iniciar uma acção semelhante na Europa, ainda este ano. E aqui, o problema pode ser bem mais grave - não nos esqueçamos que apenas 10% da produção chinesa de equipamentos fotovoltaicos vai para os EUA, a fatia dourada é a Europa, com 80%.
Isto para explicar que os alemães, em face da experiência acumulada nos EUA e também na Alemanha (até agora a China tem sido a maior beneficiária dos incentivos do Governo alemão à energia solar), poderão não estar dispostos a financiar um qualquer plano industrial à escala europeia, para benefício de países concorrentes, nomeadamente os asiáticos. Diga-se que esta estratégia contém riscos, para a própria Alemanha, – a demais indústria alemã tem beneficiado, e muito, dos planos de incentivo à economia dos governos chinês e norte-americano. Para os mais optimistas que pensam que é, tão só, desenhar um plano de crescimento e financiá-lo, desenganem-se, dificilmente avançará sem estarem salvaguardas as devidas garantias. Podemos ter uma guerra comercial, envolvendo as cleantech, antes mesmo de ser lançado um qualquer plano industrial europeu. E todos sabemos como as guerras comerciais podem acabar mal.