Sábado, 12.06.10

Limites aos défices

Luís Amado vem insistir no debate sobre os limites aos défices públicos inscritos na constituição. Antes de mais, parece-me importante distinguir entre o significado duma lei na Alemanha e em Portugal. Na Alemanha as leis são para cumprir, mas em Portugal, seguindo a tradição latina, as leis são rígidas, mas a aplicação é mole.

Já temos, aliás, o exemplo de termos que cumprir um limite de défice segundo os tratados europeus, cujo incumprimento previa pesadas multas e isso não serviu para nada. Porque é que uma norma da constituição portuguesa, cujo incumprimento nunca podia prever pagarmos uma multa ao exterior, poderia ser mais eficaz?

Parece-me que, mais importante do que proibir défices excessivos, é a constituição conter normas que facilitem o cumprimento desse objectivo. Devia haver uma norma de importância superior, à qual as muitas outras deveriam ser subordinadas: a sustentabilidade das finanças públicas. O princípio dos direitos adquiridos deveria ser constitucionalizado explicitamente, mas subordinado ao princípio da sustentabilidade das finanças públicas. Sempre que os direitos adquiridos pusessem em causa este princípio, deixavam de ser “adquiridos”.

Mas é preciso ainda perguntar: o que é um défice “excessivo”? Há um forte equívoco que continua a minar o pensamento europeu sobre isto. Um défice excessivo não é um défice superior a 3% do PIB, mas sim um défice que impede a estabilização macroeconómica. Por exemplo, em 1999 em Portugal um défice de apenas 0,1% do PIB deveria ser considerado excessivo porque na altura precisávamos de ter superavits orçamentais, para contrariar o estímulo excessivo provocado pela descida das taxas de juro associadas à entrada no euro. O facto de não os termos feito foi um erro gravíssimo, para o qual muitos na altura chamaram a atenção e que provocou a nossa drástica perda de competitividade e a divergência estrutural com a UE. Ou seja, colocar na constituição o equívoco de que um défice excessivo é um défice superior a x é uma infeliz ideia.
publicado por Pedro Braz Teixeira às 09:21 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Domingo, 27.01.08

One size fits all

«A participação de Portugal em missões de paz é determinada pela avaliação dos interesses e das prioridades nacionais, no quadro de uma nova doutrina de intervenção que deixou de ser motivada, exclusivamente, por factores históricos ou de proximidade geográfica e passou a pautar-se por critérios de segurança regional e internacional. É neste contexto que, enquanto Estado membro da União Europeia e da Aliança Atlântica, Portugal assume as suas responsabilidades como um produtor de segurança internacional.»
«Portugal no Chade: um dever humanitário», Nuno Severiano Teixeira (Público, 25.1.2008: 45).
.
Digamos que sim, sem mais demoras, para simplificar a questão. Agora expliquem-me uma coisa, se conseguirem. À luz deste template, genérico, por que motivo vamos para o Chade ao mesmo tempo que reduzimos consideravelmente a nossa participação no Afeganistão? Qual foi a avaliação que foi feita dos interesses e prioridades nacionais que ditou o downgrade da nossa presença no Afeganistão? A dimensão do contingente é irrelevante, desde que permita afirmar que assumimos as nossas responsabilidades? Estaremos mesmo a assumir as nossas responsabilidades enviando para o Chade um C-130 e pouco mais?
.
Não será seguramente através do PSD que teremos respostas para estas e para outras perguntas. Afinal, como frisou António Martins da Cruz, os sociais-democratas «não tem divergências» com o Governo em matéria de política externa. Há ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros com muita sorte.
publicado por Joana Alarcão às 16:38 | comentar | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

pesquisa

 

posts recentes

links

Posts mais comentados

últ. comentários

  • ou podre
  • http://fernandovicenteblog.blogspot.pt/2008/07/si-...
  • O pagamento do IVA só no recibo leva a uma menor a...
  • O ranking tal como existe é um dado absoluto. Um r...
  • Só agora dei com este post, fora do tempo.O MEC af...
  • Do not RIP
  • pois
  • A ASAE não tem excessos que devem ser travados. O ...
  • Concordo. Carlos Botelho foi um exemplo de dignida...
  • ou morriam um milhão deles

tags

arquivos

2014:

 J F M A M J J A S O N D

2013:

 J F M A M J J A S O N D

2012:

 J F M A M J J A S O N D

2011:

 J F M A M J J A S O N D

2010:

 J F M A M J J A S O N D

2009:

 J F M A M J J A S O N D

2008:

 J F M A M J J A S O N D

2007:

 J F M A M J J A S O N D

2006:

 J F M A M J J A S O N D

subscrever feeds