Harry Truman por causa de Sarah Palin

Segundo o Daily Telegraph, foi positiva a primeira entrevista dada por Sarah Palin à ABC. Diante da candidata esteve Charles Gibson, um "veterano" em questões de política externa daquela estação. Este êxito – que pode ser transitório ou vir a consolidar-se – é importante pelo facto de muito boa gente temer as consequências nefastas que certamente terá a escolha de uma vice-presidente pouco ou nada conhecedora da política externa dos EUA e das duras realidades que fazem e desfazem a política internacional.
Independentemente daquilo que o futuro possa reservar a Palin, como candidata e/ou como eventual vice-presidente, talvez valha a pena recordar Harry Truman. Truman foi sucessor de F. D. R. na Casa Branca. Não tinha qualquer experiência de política externa quando substituiu o seu antecessor cuja morte, aliás, era previsível apesar de uma reeleição triunfal ocorrida em Novembro de 1944. Roosevelt, vá-se lá saber porquê, orgulhava-se de manter o seu vice-presidente totalmente à margem das discussões de política externa numa conjuntura delicada como era a do fim da segunda guerra mundial e de preparação de uma nova ordem política internacional.
Com a morte Roosevelt, Truman revelou-se um extraordinário presidente, nomeadamente naquilo que à política externa diz respeito. Foi a sua administração que conteve o avanço do poderio soviético na Europa e no Médio Oriente, embora tenham fracassado os seus intentos na China. O 33.º presidente dos EUA preparou o seu país e o seu povo para uma "guerra fria" concluída com êxito em 1991. Truman decidiu, e bem, o lançamento de duas bombas atómicas sobre o Japão. Reconheceu o Estado de Israel, lançou o Plano Marshall e foi decisivo na criação da NATO, a primeira aliança militar em tempo de paz de que os EUA fizeram parte. Aplaudiu a independência da Índia e do Paquistão e forçou a independência da Indonésia. Truman enfrentou, liderando uma generosa coligação político-militar, a agressão militar da Coreia do Norte à Coreia do Sul, mas recusou que o dispositivo nuclear norte-americano fosse novamente usado no Extremo Oriente quando a China de Mao entrou no conflito.
Truman era um provinciano natural de uma pequena cidade do Missouri cujo nome (Lamar) poucas vezes é recordado fora das aulas de história, e o único presidente norte-americano sem um título universitário. Truman regressou às suas raízes em 1953 depois de ter recusado candidatar-se a um segundo mandato no ano anterior. Aí terminou os seus dias modesta e provincianamente. No entanto, foi um dos grandes presidentes norte-americanos do século XX cuja vida foi exemplarmente contada por David McCullough.
publicado por Fernando Martins às 18:00 | comentar | ver comentários (6) | partilhar