Para lá dos néons: O lado negro deste lado do mundo
Os números são de 2010, da OCDE e falam por si. No canto superior esquerdo, onde nenhum país deveria estar, surgem destacados a Coreia e o Japão. Uma triste factura social para sociedades que, já com uma prosperidade muito razoável, optam por se manter sobre uma pressão insuportável. Para o leitor ter uma noção, suicidam-se por ano na Coreia 12 mil pessoas. Uma autêntica guerra civil.
Já escrevi no Cachimbo como vivem os miúdos e os adultos aqui: os mais novos a estudar selvaticamente até irem para a tropa, os mais velhos nos Chaebols a trabalhar dia e noite (No Japão é mais ou menos igual). O resultado é a população activa mais qualificada e esforçada do mundo, mas mais infeliz, deprimida e suicida.
Para além da pressão nos estudos e no trabalho, há outras questões que esta gente tem que começar a enfrentar mais tarde ou mais cedo. A vida das mulheres é um inferno: treinadas desde pequenas para serem umas bonecas, magras e bonitas (e são de facto lindas), para casarem entre os 26 e os 28 anos (the golden age, depois são chamadas de velhas), tomar conta da casa (trabalham até casar) e muitas vezes dos pais do marido. Depois, já se está a ver, vigiam-se umas às outras, para assegurar que o status quo se mantém.
Não há diálogo entre amigos, gerações ou colegas. Há relações fortes e grupos coesos, sim, mas apenas ligados por uma actividade ou facto comum. Problemas sérios pessoais são enfiados bem lá no fundo da alma para que ninguém saiba da sua existência. Não se falando de adversidades (e de como contorná-las), as pessoas ficam pouco preparadas e lidam pessimamente com situações inesperadas (serem pouco creativas também não ajuda). E assim, quando chega uma surpresa desagradável (um divórcio, a morte dum pai, o desemprego) a única solução é, muitas vezes, atirar-se de um prédio ou para o rio Han.
No que toca ao suícidio, e especificamente na Coreia, o assunto não consta da agenda do Governo nem dos media, excepto quando envolve celebridades (como o ex-presidente Roh ou a actriz Choi Jin-sil). E não é com medidas avulso - como a colocação de telefones "anti-suícidio" nas príncipais pontes de Seul - que se vai lá. Temas para além do suicídio, que aqui descrevi - e que acabam por estar ligados ao primeiro - são ainda mais complexos de resolver, já que estão profundamente ligados à cultura milenar Confucionista.
O Japão e a Coreia são países sensacionais, com enormes feitos na história recente e grandes lições a dar ao mundo. Mas para se considerarem verdadeiramente desenvolvidos, as suas sociedades têm que começar a zelar pela felicidade dos seus. O que, na minha opinião, vai demorar pelo menos mais uma geração.