Os jornalistas e as redes sociais
Através do Fórum de Jornalistas, tomei conhecimento que a Associated Press publicou recentemente um código de conduta para a utilização das redes sociais por parte dos seus jornalistas. Segundo este código, as redes sociais não são espaços privados, mas sim complementos à sua actividade profissional, e como tal, os jornalistas da AP terão de reger-se por um conjunto de regras. Entre as várias directivas da AP, há alguns aspectos interessantes: a opinião política é simplesmente proibida, se têm relacionamento com políticos, estes devem ser de ambos os lados, "breaking news" devem ser dadas primeiro à redacção e só depois nas redes sociais e devem evitar comentários "insultuosos" para terceiros, sejam eles equipas desportivas, celebridades, empresários ou políticos. Ao lado destas regras gerais, há directivas sobre como comportar-se no Twitter, em relação às fontes, à privacidade e até a política de "amigos/seguidores".
Alguns aspectos são claramente exagerados e outros sem grande sentido. Mas, a questão de fundo é outra, pois esta é uma realidade que meios de comunicação vão começar a olhar com mais atenção no futuro. Como diz o post do Fórum, outros media estrangeiros já tomaram medidas idênticas. A principal preocupação dos gestores parece ser lidar com a reputação da marca. Ninguém duvide que um jornalista numa rede social pode causar imensos problemas ao meio onde trabalha, especialmente se for usual publicar conteúdos impróprios ou se transformar as suas contas em centros de activismo político. Há excepções, nomeadamente com alguma imprensa assumidamente de esquerda ou direita que existe em países estrangeiros, onde isto não será um problema. Mas é evidente que na imprensa que faz da isenção um porta estandarte, pode ser problemático ter jornalistas nas redes sociais a constantemente afirmarem a sua ideologia através dos conteúdos que publicam. E depois há os maus comportamentos. Um exemplo óbvio é que não podemos ter um jornalista a insultar um político nas redes sociais, e uma semana depois fazer uma reportagem sobre ele. Que credibilidade tem este meio ou este jornalista? Isso parece-me inaceitável. Mas a dúvida que eu tenho é se é preciso criar estes códigos de conduta, que no caso da AP, será lei dentro da agência. Aceito que os meios sintam a necessidade de ter linhas internas para os seus jornalistas, mas parece-me que o bom senso é sempre mais eficaz do que um regulamento qualquer. E se existirem exageros, aí sim, actuar internamente de forma a corrigir esses erros, que, quer queiram ou não, acabam por prejudicar o jornal, televisão ou rádio.