Quinta-feira, 27.09.12

Chegou o ocaso, preparem-se

«Cada outono que vem é mais perto do último outono que teremos, e o mesmo é verdade do verão ou do estio; mas o outono lembra, por o que é, o acabamento de tudo, e no verão ou no estio é fácil, de olhar, que o esqueçamos. Não é ainda o outono, não está ainda no ar o amarelo das folhas caídas ou a tristeza húmida do tempo que vai ser inverno mais tarde. Mas há um resquício de tristeza antecipada, uma mágoa vestida para a viagem, no sentimento em que somos vagamente atentos à difusão colorida das coisas, ao outro tom do vento, ao sossego mais velho que se alastra, se a noite cai, pela presença inevitável do universo. Sim, passaremos todos, passaremos tudo. Nada ficará do que usou sentimentos e luvas, do que falou da morte e da política local.»

 

Bernardo Soares - Livro do Desassossego

publicado por Paulo Marcelo às 11:22 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Quarta-feira, 26.09.12

Da série "Vale a pena ler"

 

A crise espanhola segundo o New York Times - In Spain, Austerity and Hunger.

publicado por Paulo Marcelo às 16:26 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Terça-feira, 18.09.12

Olhem para a Grécia

 

O anúncio de mais austeridade deitou gasolina para o espaço público. As ruas encheram-se de gente indignada com mais sacrifícios. Tudo normal em democracia. Mas que alguns políticos e comentadores se limitem a cavalgar a onda da indignação é estranho e perigoso. Sem deixar de ouvir a frustração das pessoas, convém não esquecer onde estamos e como viemos aqui parar: a dívida que nos escraviza; um Estado gordo e ineficiente, cheio de feudos e privilégios; uma economia estagnada, há mais de uma década, apesar do dinheiro abundante do nosso keynesianismo serôdio.

Um dos lemas das manifestações era “que se lixe a troika, queremos as nossas vidas”. Pois. Mas a verdade é que não foi a ‘troika’ que nos invadiu, mas sim o primeiro-ministro Sócrates que lhes pediu que viessem. E ainda dependemos deles para pagar salários e pensões. Esta é a crua verdade que não podemos esquecer. Como se a bancarrota não estivesse ao virar da esquina. Como se o caos grego, que se iniciou precisamente com a quinta avaliação internacional, não estivesse à vista de todos.

Podemos sair daqui sem dor? Alguns cinicamente dizem que sim. A memória é curta e as opiniões mudam depressa. Ainda há poucos meses a ladainha era: vivemos-acima-das-possibilidades-temos-de-mudar-de-vida. Agora que a coisa aperta são as mesmas vozes a dizer que se está a ir longe demais. Ora, pode-se modelar isto ou aquilo, mas é falso dizer que há alternativas à austeridade, pelo menos se quisermos continuar no euro. Quem disser o contrário ou não sabe o que diz ou é mentiroso. Mesmo o socialista Hollande, num país não intervencionado, já anunciou cortes de 30 mil milhões.

O mais triste é que sejam aqueles que nos trouxeram a cavalgar na onda populista. A posição socialista é hipócrita porque sabem que se voltassem ao governo, teriam de aplicar a mesma receita (lembram-se dos quatro PEC?), com riscos de dissolução do partido, tais as contradições em que cairiam. Por isso, Seguro é o último a querer eleições antecipadas e só engrossou a voz para se afirmar internamente.

Apesar do cheiro a PREC que paira no ar, com leves fragâncias gregas, esta crise acabará por resolver-se. Mais que não seja porque ninguém tem interesse em eleições antecipadas. O PSD só quer ser avaliado no final da legislatura. Paulo Portas, no seu calculismo, sabe que não pode esticar a corda demasiado sem ser penalizado nas urnas. Cavaco Silva tem pesadelos com um governo de iniciativa presidencial e tudo fará para evitar que uma crise política lhe rebente nas mãos.

Só mesmo a esquerda radical quer eleições antecipadas. Mas ao contrário dos gregos, os portugueses prezam a estabilidade e continuam a preferir os partidos moderados do centro. Apesar da contestação (e da coligação...) o Governo mantém plena legitimidade política. Terá de investir mais no diálogo social, mas é essencial manter o rumo reformista, que já permitiu alcançar uma balança comercial positiva. Só assim podemos vencer o monstro da despesa pública e retomar a nossa liberdade como cidadãos e como País.

 

[Diário Económico]

publicado por Paulo Marcelo às 10:28 | comentar | ver comentários (10) | partilhar
Terça-feira, 04.09.12

Da série "Vale a pena ler"

«Por várias vezes, no decurso das últimas semanas, fui surpreendido por escritos alusivos à História de Portugal da autoria de Rui Ramos (coordenador), Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, publicada em 2009. A maior parte desses textos apareceram no PÚBLICO e o seu principal autor é Manuel Loff . Sei bem que a liberdade de expressão não pode ser limitada de ânimo leve, nem sequer pela qualidade. Mas é sempre triste ver que a inteligência, o rigor e a decência têm por vezes de ceder perante essa liberdade última que é a de publicar o que se pensa. Quando tive a honra de apresentar o livro, na Sociedade de Geografi a, anunciei o que para mim era um momento histórico.  

Com efeito, esta História de Portugal quebrava finalmente o duopólio fanático estabelecido há muito entre as Histórias ditas “da esquerda” e da “direita”. As várias formas de “nacionalismo” e de “marxismo” e respectivas variantes tinham dominado a disciplina durante décadas. Apesar de algumas contribuições magistrais (e a de José Mattoso é das principais), ainda não se tinha escrito uma História global, compacta e homogénea que rompesse com a alternativa dogmática, que viesse até aos nossos dias e que, especialmente para o século XX, “normalizasse” a interpretação da 1.ª República e do Estado Novo. Ambos estavam, mais do que qualquer outro período, submetidos à tenaz de ferro das crenças religiosas e ideológicas e ao ferrete das tribos. Com esta História, estamos longe daquela tradição que cultiva e identifica inimigos na História. Agora, deixa de haver intrusos e parêntesis. Os regimes políticos modernos e contemporâneos, de Pombal à Democracia, passando pelos Liberais, pelos Miguelistas, pela República e pelo Salazarismo, eram finalmente tratados com igual serenidade académica, sem ajustes de contas. Um dos feitos desta História consiste na “normalização” do século XX, marcado por rupturas e exibindo feridas profundas. Por isso me curvava diante dos seus autores, homenageando a obra que ajuda os portugueses a libertarem-se de fantasmas. Mas, sinceramente, já não esperava que ainda houvesse demónios capazes de despertar o pior da cultura portuguesa.»


[Carta de António Barreto, no Público de ontem]

 

Sobre o mesmo tema, não deixem de ler este texto do António Araújo no blogue Malomil

publicado por Paulo Marcelo às 09:03 | comentar | ver comentários (4) | partilhar
Segunda-feira, 20.08.12

O Portugal futuro

O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

 

Ruy Belo - Todos os Poemas, Assírio & Alvim

publicado por Paulo Marcelo às 13:07 | comentar | partilhar
Segunda-feira, 13.08.12

Polaroids de férias (5)

[tinturaria de Fez, em Marrocos]

publicado por Paulo Marcelo às 18:58 | comentar | ver comentários (2) | partilhar
Quinta-feira, 09.08.12

Polaroids de férias (4)

 

[velho no Souk de Fez, em Marrocos]

publicado por Paulo Marcelo às 18:44 | comentar | partilhar
Quarta-feira, 08.08.12

Sempre fomos bons com barcos

 

Fernando Pimenta e Emanuel Silva estão de parabéns por conquistarem a nossa primeira medalha, em Londres 2012. Não é no berlinde olímpico mas na canoagem K2-1000 metros. Uma grande vitória, finalmente, que ajuda a elevar o ego nacional. Ainda por cima ficaram apenas a 53 milésimos do ouro. Volta Vicente de Moura, estás perdoado.

publicado por Paulo Marcelo às 11:27 | comentar | ver comentários (7) | partilhar
Terça-feira, 07.08.12

Polaroids de férias (3)

[Velho na ilha de São Tomé]
publicado por Paulo Marcelo às 15:43 | comentar | partilhar
Quinta-feira, 02.08.12

Polaroids de férias (2)

 

[Crianças na ilha de São Tomé]

publicado por Paulo Marcelo às 10:56 | comentar | ver comentários (3) | partilhar
Segunda-feira, 30.07.12

Polaroids de férias

 

[Pescador em Inle Lake, Birmânia, junto à fronteira com a China]

publicado por Paulo Marcelo às 11:32 | comentar | ver comentários (2) | partilhar
Sexta-feira, 27.07.12

Da série "Hoje apetece-me ouvir isto"


[U2 - One]
publicado por Paulo Marcelo às 16:32 | comentar | partilhar
Quarta-feira, 25.07.12

Já esquecemos que ia ser difícil?

 

 

Um ano volvido, à beira de um Verão quente, há balanços que já podem ser feitos. Mas para isso vale a pena lembrar de onde partimos e onde chegámos. De uma situação de emergência, a um passo da bancarrota, é justo reconhecer que este governo está a conseguir inverter a trajectória dos últimos anos, reduzindo a despesa pública e o peso do Estado na economia. Por pressão externa, é verdade, mas com o mérito cumprir fielmente uma agenda de reformas estruturais que tem permitido que Portugal comece a ser visto com outros olhos lá fora. A descida das taxas de juro aí está para o comprovar, tal como as exportações, que permitiram a primeira balança comercial positiva desde a II Guerra Mundial.

 

Podia isto ser feito sem dor? Alguns dizem que sim, esquecendo o que nos trouxe até aqui. A memória é curta e as opiniões mudam depressa. Ainda há poucos meses a ladainha era: "vivemos acima das possibilidades" e "é preciso mudar de vida"; agora, as mesmas vozes dizem que se "está a ir longe demais". Os ventos parecem mudar à medida que somos nós ou o nosso grupo a sofrer. Mas o mais curioso é que são aqueles que nos trouxeram até aqui os primeiros a vacilar. O PS vive um dilema permanente entre a fidelidade a um programa com a sua assinatura e as críticas oportunistas à austeridade. Uma posição demagógica porque os socialistas sabem que teriam de aplicar a mesma receita se fossem governo. Sabem que o problema não está resolvido, longe disso, e não podemos alargar o cinto ou começar a distribuir dinheiro, como se fez no passado, com os resultados conhecidos.

 

Por mais que nos custe a crise não acabou. Apesar das reformas feitas, continuamos com um problema da competitividade, com reflexos graves nos desemprego, uma justiça lenta, um Estado gordo e anafado. Mas é justo reconhecer que o Governo tem lutado por mudar as coisas no sentido da sustentabilidade. Sinal disso são as reacções generalizadas, desde médicos, militares, professores, acabando nos pilotos da TAP. O que mostra coragem em enfrentar alguns interesses e vacas sagradas. Ou alguém acredita que o ministro da saúde tem uma especial embirração pelos médicos? Ou que se levanta de manhã a pensar qual o serviço de urgência vai encerrar nesse dia? Estas reacções são legítimas, mas é preciso ver se o interesse colectivo deve prevalecer sobre os interesses particulares, por mais poderosos que sejam ou com mais acesso à comunicação social. Ou será que os maquinistas da CP têm um direito acrescido a horas extraordinárias só porque conseguem parar os comboios durante meses?

Se não mudarmos o nosso futuro será tão curto como a nossa memória.

 

[Diário Económico]

publicado por Paulo Marcelo às 14:03 | comentar | ver comentários (6) | partilhar
Segunda-feira, 23.07.12

Da série "Vale a pena ler"

«Aquilo que os nossos descendentes não conseguirão compreender é a nossa inacreditável ligeireza e inoperância perante factos devastadores, que subjazem a tudo o mais: "No primeiro semestre deste ano, nasceram menos quatro mil bebés do que no mesmo período de 2011. Se a tendência de decréscimo se mantiver, 2012 poderá ficar para a história como o ano em que os nascimentos não chegaram aos 90 mil, algo que nunca aconteceu desde que há registos" (DN, 5/Julho). Sem portugueses não há economia, consumo, emprego, ensino, justiça, país. Com a atenção centrada no défice, desemprego, ou pior, nas tricas do momento, Portugal resvala para a decadência perante a apatia generalizada. Somos um dos países do mundo com menor taxa de fertilidade, muito inferior à dos nossos parceiros, aliás também entre os mais estéreis. Essas sociedades desenvolvidas há muito identificaram o problema e criaram políticas resolutas para o enfrentar, com sucessos muito díspares. Em Portugal a medida recente neste campo é o subsidiação do aborto, que aliás é a única área da Saúde onde os cortes financeiros não têm efeito.»

 

Ovo de crocodilo, por João César das Neves, no Diário de Notícias.

publicado por Paulo Marcelo às 13:10 | comentar | ver comentários (7) | partilhar
Domingo, 22.07.12

Do que está à espera o Ministério Público?

O coletivo de juízes do Tribunal do Barreiro considerou que da prova produzida durante o Julgamento resultaram fortes indícios de que existiram pagamentos ilegais dentro do Ministério do Ambiente. Durante as sessões de julgamento, três testemunhas afirmaram sob julgamento que o antigo primeiro-ministro José Sócrates recebeu pagamentos em dinheiro para viabilizar o projeto do outlet de Alcochete. Recorde-se que foram estava em causa a construção de um mega centro comercial em plena Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo, na altura em que o ex-primeiro-ministro José Sócrates era ministro do ambiente. Os magistrados entenderam não ignorar estes três depoimentos, mandando extrair certidão autónoma para que seja finalmente investigado a fundo o que se passou e para que José Sócrates se possa defender. Tudo isto comprova a incompetência (ou mesmo falta de isenção) da Directora do DCIAP Cândida Almeida, que durante vários anos impediu, sob o alto patrocínio do PGR Pinto Monteiro, que se investigasse a sério o envolvimento de José Sócrates neste licenciamento ilegal. Espero que o Ministério Público mude agora de atitude. Já é tempo de termos a mesma exigência perante a alta corrupção do Estado do que aquela a que assistimos na pequena criminalidade. Todos os cidadãos devem ser iguais perante a lei e, já agora, perante os procuradores do MP. Tenham mais ou menos poder, sejam ou não ministros, usem ou não avental. A isso chama-se Estado de Direito.

publicado por Paulo Marcelo às 12:48 | comentar | ver comentários (12) | partilhar
Sábado, 21.07.12

Não anda longe da verdade

publicado por Paulo Marcelo às 09:49 | comentar | ver comentários (2) | partilhar
Quarta-feira, 18.07.12

Muitas velas para tão grande mar

publicado por Paulo Marcelo às 10:00 | comentar | ver comentários (1) | partilhar
Terça-feira, 17.07.12

Explicação da ausência

Desde que nos deixaste o tempo nunca mais se transformou
Não rodou mais para a festa não irrompeu
Em labareda ou nuvem no coração de ninguém.
A mudança fez-se vazio repetido
E o a vir a mesma afirmação da falta.
Depois o tempo nunca mais se abeirou da promessa
Nem se cumpriu
E a espera é não acontecer — fosse abertura —
E a saudade é tudo ser igual.


Daniel Faria 
in Explicação das Árvores e de Outros Animais

publicado por Paulo Marcelo às 18:21 | comentar | partilhar
Segunda-feira, 16.07.12

Da série "A concorrência faz melhor"

Fernando Pessoa clandestino, no genial blogue Malomil, de António Araujo.

publicado por Paulo Marcelo às 10:04 | comentar | partilhar
Quinta-feira, 12.07.12

O comboio regressa ao Douro vinhateiro

 

Nem tudo são más notícias. O comboio vai regressar às encostas do Douro, cruzando vagarosamente uma das mais originais paisagens do mundo, entre socalcos, vinhas e manchas de água. Se ainda não fizeram sugiro que experimentem, este Verão, o percurso da mais original linha férrea nacional, entre a Régua, Pinhão e Tua, numa antiga locomotiva a vapor (1925) e cinco carruagens históricas. Vale a pena.

publicado por Paulo Marcelo às 12:13 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

Cachimbos

O Cachimbo de Magritte é um blogue de comentário político. Ocasionalmente, trata também de coisas sérias. Sabe que a realidade nem sempre é o que parece. Não tem uma ideologia e desconfia de ideologias. Prefere Burke à burqa e Aron aos arianos. Acredita que Portugal é uma teimosia viável e o 11 de Setembro uma vasta conspiração para Mário Soares aparecer na RTP. Não quer o poder, mas já está por tudo. Fuma-se devagar e, ao contrário do que diz o Estado, não provoca impotência.

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