No próximo domingo, a Grécia terá novas eleições legislativas, mas é altamente improvável que consiga formar um governo. Mesmo que – por milagre – os partidos a favor da austeridade consigam constituir um executivo, tudo indica que será frágil, a cair perante as primeiras adversidades, que serão muitas.
Estamos, assim, cada vez mais próximos da saída da Grécia do euro, um evento que era “impossível” de acontecer e que mudará – definitivamente – a natureza da crise do euro. Haverá uma mudança drástica na forma como os mercados passarão a encarar esta crise e as agências de rating serão, mais uma vez, mensageiros e não causadores desta alteração de percepção.
Fala-se, abstractamente, da necessidade de conter o contágio da Grécia, mas adivinham-se as maiores dificuldades económicas em concretizar essa contenção mas – sobretudo – antecipam-se os mais inultrapassáveis obstáculos políticos para tal.
Em primeiro lugar, haverá um efeito benéfico para a generalidade dos estados membros do euro: a depreciação desta moeda face às principais moedas, que deverá auxiliar as exportações.
É também previsível uma nova escalada das taxas de juro dos países periféricos e uma “fuga para a qualidade”, conduzindo algumas das taxas de juro da dívida alemã para valores negativos, em termos nominais. Ou seja, os investidores deverão preferir deter títulos alemães e perder, de certeza, dinheiro com isso, do que correrem o risco de perder muito mais, se depositarem os fundos em bancos, mesmo alemães.
Para além disso, há o risco, muito claro, de a condição de “periférico” viajar geograficamente para as paragens mais insuspeitas.
A Espanha, depois de respirar de alívio, temporariamente, com a ajuda quase incondicional aos seus bancos, poderá voltar a estar à “beira de um ataque de nervos”, com a necessidade de pedir ajuda – desta feita fortemente condicional – para financiar as suas contas públicas. A Itália, que já está a ser contagiada por Espanha, será também contaminada pela Grécia.
Para conter a subida das taxas de juro dos periféricos será necessária uma intervenção cada vez mais intensa do BCE, mas este deverá ser levado à falência pela saída da Grécia, por várias razões, entre as quais avulta o ter intervindo para tentar suster a escalada de taxas de juro deste país. Ou seja, muito dificilmente o BCE poderá ajudar Espanha e Itália.
Entretanto, começou-se já a falar de limitar os levantamentos de dinheiro das caixas automáticas na Grécia, caso este país saia do euro. Também se pondera reintroduzir controlos de capitais, dito de outro modo, proibir a fuga de capitais, para além de suspender a livre circulação de pessoas ao abrigo do acordo de Schengen.
Quando os habitantes dos países em risco virem que os gregos estão a ser proibidos de levantar dinheiro dos bancos, excepto para as necessidades mais prementes, o que é que se pode esperar? Não custa adivinhar que irão retirar dinheiro dos bancos, mesmo que inicialmente o façam de forma relativamente controlada.
É curioso que no caso dos países mais ricos se comece a ponderar uma acção simétrica. Neste momento, a Noruega já dificulta muitíssimo a entrada de capitais do exterior e a Suíça pode também criar sérias dificuldades a capitais que queiram entrar neste país depois da Grécia sair do euro. Também o Reino Unido teme que um afluxo excessivo de fundos conduza a uma apreciação da libra, que iria prejudicar muito as exportações britânicas e colocar em causa a retoma económica. Ou seja, pode haver uma pressão muito grande para fugir dos países do euro com maiores riscos, mas nem todos os países estarão disponíveis para os receber, até pelo receio de que estes movimentos sejam aproveitados para a lavagem de dinheiro.
[Publicado no jornal “i”]