A informação que chega do Iraque indica que a violência está novamente a aumentar, os atentados terroristas multiplicam-se evidenciando um crescendo da violência no país. Os reflexos do abandono militar pelas tropas dos EUA no final do ano passado começam, agora, a ser difíceis de esconder. À data o Governo iraquiano enunciava esta mesma preocupação apelando às empresas americanas que não fizessem o mesmo e não abandonassem o país.
O Iraque possui a 3ª maior reserva de petróleo convencional do mundo, no entanto, resultado da história dos últimos anos, hoje apenas produz 4% do petróleo mundial. Estava previsto, após o fim do conflito, que acontecesse no Iraque o maior aumento de capacidade produtiva da história da indústria petrolífera – produzir em 2017 mais 10 milhões de barris. Este manancial de riqueza prometia gerar recursos financeiros suficientes para fazer frente à enorme tarefa que o Governo tem pela frente - a reconstrução do país. Acreditavam os iraquianos (mas também os principais financiadores da intervenção militar) que com uma riqueza tamanha conseguiriam seduzir as maiores empresas petrolíferas mundiais a concorrerem à exploração do potencial energético; e não se enganaram, algumas das maiores estão presentes no Iraque: Exxon, Chevron, Total, Gazprom, CNOOC, Shell, BP, Eni, Sonangol, Statoil. Infelizmente as coisas não estão a correr como o esperado e a maioria dos projectos sofre significativos atrasos, mas pior, são algumas destas empresas que, insatisfeitas com as condições comerciais oferecidas pelo governo iraquiano, assumem uma atitude “rebelde”.
Depois das norte-americanas Exxon e Chevron e da francesa Total terem desafiado o regime, foi na passada semana a vez da russa Gazprom– contrariando as indicações do Governo iraquiano - negociar concessões de exploração de petróleo no Curdistão iraquiano directamente com o Governo Regional do Curdistão, fazendo exactamente aquilo que tinha sido terminantemente proibido pelo Governo central iraquiano. As reservas do Curdistão são significativamente inferiores às das regiões sul do Iraque, razão pela qual alguns analistas entendem que as companhias petrolíferas estão apenas, com esta atitude desafiadora, a tentar pressionar o Governo iraquiano a flexibilizar as condições, isto é: ser mais generoso com a indústria. É óbvio que o Governo central poderá retaliar e retirar as concessões já atribuídas oferecendo-as a outras empresas, nomeadamente chinesas – é uma hipótese, ainda que pouco provável.
Várias consequências podem advir deste comportamento empresarial “rebelde”. Com o atraso no desenrolar normal dos projectos, o Governo central vai sendo privado dos recursos económicos necessários para satisfazer as urgentes necessidades de investimento e mais importante ainda: manter a paz no país e por fim à violência. Sem esses meios, este crescendo de violência que temos assistido, terá tendência a agravar-se.
Esta atitude empresarial não é um desafio unicamente ao Iraque é também à Turquia, e grave, dotar os independentistas curdos de dinheiro não pode deixar de ser lido como uma importante ameaça. Para o Curdistão este facto equivale a um reconhecimento da comunidade internacional, mas com dinheiro.
A estabilização e consolidação da democracia iraquiana devia ser do interesse de todos, contudo, face ao que estamos a assistir, e para alguns, o nível actual de destruição do Iraque parece não ter sido ainda castigo suficiente.